quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Olho Por Olho

 

Olho Por Olho

 

             O replicante corria pelo árido tapete do deserto ao lado da antiga ferrovia usando toda sua força sobre humana. Corria para salvar sua vida e o segredo que protegia. Dezenas de metros atrás dele, uma velha Scania a diesel fabricada em meados dos anos 70, o perseguia com seus velhos pneus adaptados para areia. Era guiada por um velho caçador de replicantes, o mais temido deles, um homem de meia idade cujo nome causava pavor aos clones: Nimrod.

             Se conta nas lendas que o inferno havia reencarnado na terra e que esse era o seu nome. Não havia misericórdia para aqueles replicantes capturados por ele. Eram mutilados ainda vivos e com crueldade.

             A caçada já durava dez dias. Adão-248 corria tentando se salvar. Precisava chegar as rochas no deserto e depois dela à grande cratera, sítio da detonação termonuclear Hades[1], como ficou conhecido o inferno termonuclear que emergiu dela. Ali, a radiação mataria quase que instantaneamente qualquer humano pois os replicantes eram imunes.

             Os replicantes não possuíam nomes. Eram tatuados com um número luminescente dentro da órbita inferior do olho direito. O preconceito para com os clones ainda era mais forte do que havia sido para com os afrodescendentes antes do holocausto atômico. Replicantes quando capturados, eram torturados como numa inquisição católica da idade média.

             Adão cruzou a ferrovia entre dois vagões destruídos e abandonados que compunham uma velha locomotiva saltando para o outro lado entrando na zona de radiação, ganhando uma vantagem sobre seu algoz que certamente não desistiria de o perseguir. Em seus pensamentos enquanto corria, a imagem de sua bela esposa replicante, Eva-252, o inspiravam a prosseguir e salvar sua vida. Um profundo segredo que Eva carregava o inspirava ainda mais a prosseguir lutando por sua existência. Era esse segredo que ele precisava proteger a qualquer custo.

 Órgãos de replicantes eram uma relíquia valiosa no mercado de órgãos se sempre havia um doente preconceituoso da elite pós-apocalíptica disposto a pagar qualquer preço por um órgão para transplante.

             Nimrod parou a caminhão, desceu e se se vestiu com um macacão contra radiação ganhando uma proteção de cinquenta minutos para continuar a caçada. Voltou ao volante e acelerou atravessando com sua Scania modificada entre os vagões arremessando ferros retorcidos para todos os lados. Ele ainda possuía um trunfo. O cavalo possuía um motor envenenado pronto para ser usado uma única vez.

             - Agora eu pego você, pele falsa! – Declarou para si mesmo o caçador do inferno. – Vou arrancar e vender seus órgãos por bons créditos. – Completou. Num mundo pós-apocalíptico não havia dinheiro e tudo era negociado ou trocado por créditos.

             Cem metros os separavam um do outro. Adão estava quase chegando às rochas quando Nimrod ligou o gás envenenando o motor da Scania que arrancou possante dando um salto à frente.

             De repente, a dor! Um arpão atravessou a cocha esquerda de Adão-248 antes que ele chegasse às rochas. O puxão o arremessou para atrás em direção ao cavalo à diesel. Adão caiu de costas para a areia escaldante e quando abriu os olhos, o caçador infernal já estava sobre ele brandindo um punhal serrilhado ao sol. A faca entrou abaixo da sua orbita esquerda e ele pode sentir enquanto Nimrod o cortava ao redor da orbita ocular e, então, tudo escureceu. Acordou alguns minutos depois sob aquele sol vermelho infernal. Enxergava apenas com o olho direito...

A vingança acabava de nascer. Adão-248, o replicante, não descansaria enquanto não desse fim à existência do maligno Nimrod e enviasse suas almas de volta ao Hades e não, certamente antes, de lhe arrancar o olho esquerdo e faria isso para proteger Eva-252 e o grande segredo que ela carregava.

            - Olho por olho... - Balbuciou antes de desmaiar novamente. Dois anos se passariam antes que Adão pudesse realizar sua vingança e, até lá, Eva estaria protegida e seu segredo guardado pelo tempo que havia sido determinado.

            Adão, juntou todas as forças que lhe haviam sobrado e se levantou. Rasgou um pedado de suas já maltrapilhas roupas e fez uma bandagem cobrindo a órbita esquerda vazia do olho que se lhe havia sido arrancado e retomou sua jornada em direção à Nova Saféd onde Eva, segura e protegida dos caçadores de replicantes, o aguardava.

            Atravessando Hades, contemplava as inúmeras estacas com cadáveres de caçadores de replicantes pendurados sobre elas, troféus de uma tribo de clones que residia nas cavernas escavadas nas rochas, um aviso aos caçadores que, desavisados, se aventurassem pelo Hades em busca de replicantes.

            - Olho por olho! – Balbuciava para si mesmo enquanto deixava suas pegadas pelo Hades, o local da grande cratera, o vale dos Replicantes. – Olho por olho... – Sussurrava.



[1] Inferno em Grego.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Ritual Dos Estropiados





O RITUAL

"Lembranças, fragmentos de pensamentos que tivemos, vidas que vivemos. Este é o nosso purgatório, nosso inferno. Sim, estamos mortos. Nós destruímos a terra e já não mais vivemos e tudo o que nos restou foram as lembranças, fragmentos de pensamentos que tivemos. Estamos mortos agora...".

Poesia dos Estropiados

Recitavam as muitas vozes, um aglomerado de mutilados radioativos que viviam em cavernas nos subterrâneos dos desertos atômicos, os Menutaqim[1], reunidos na chamada Gruta da Radiância, dentro da qual se agrupava na data anual do brilho nucelar. Era o que chamavam agora de “O Ritual”. Muitas velas feitas a partir do óleo extraído de uma planta da família das oleáceas, a Osmanthus Decorus, que cresce nos desertos da antiga Turquia, acesas distribuídas entre os habitantes da furna e espalhadas pelo lugar, iluminavam o ambiente da gruta e através de suas luzes cintilantes se podia distinguir os estropiados sobreviventes do Holocausto atômico e seus filhos nascidos depois do Ocaso da humanidade. A poesia recitada uma vez a cada 778 dias[2] na data das detonações atômicas que assolaram a humanidade é chamada de “O Poema do Ocaso” e havia sido canalizada por um judeu místico que fora chamado depois do Holocausto, claro, de “O Profeta Do Fim Dos Dias”, declamado ao som de um único instrumento de cordas e sob as luzes de 778 tochas acesas seguras pelas crianças nascidas após o cogumelo nuclear num dos dois únicos idiomas que lhes havia permanecido, suas línguas natais, o Esperanto e o Latim:

“Ni detruas la teron kaj ni ne plu vivas, kaj ĉio, kion ni forlasis, estas la memoroj, fragmentoj de pensoj, kiujn ni vivis, tio estas nia purgatorio, nia infero. Ni mortis nun...”

            Declamaram a 778º e ultima vez abaixando as cabeças em silencio por 778 segundos contados por uma ampulheta de areia, treze longos minutos na calada do ocaso vermelho do dia dezesseis de julho de cada ano, silencio quebrado apenas pelo pranto nascido da lembrança do Holocausto Nuclear.

            A contagem para o Ritual se iniciava quarenta e oito dias antes da data das detonações e, então, no 778º dia a celebração fúnebre tinha início.

            Depois de o declamarem em Esperando, as mulheres o repetiam declamando-o em Latim, sua segunda língua para a perpetuar e também ensinarem o idioma aos sobreviventes.

            “'Memories cogitationes superaverunt fragmenta ne habebat vivimus habitat. Hic noster purgatorium nostrorum inferno. Ita, mortui sumus. Nos terram et destrui non vivet: et omnis qui suus reliquisset nobis in memoriam, cogitationes fragmentorum plenos habebamus. nos autem mortuus es ... ".

            - Agora vamos recitar a Poesia do Silencio – conclamou com voz suave o líder dos cavernantes estropiados sobreviventes do Shoá Atomit[3], um homem alto com o deformado rosto coberto por trapos velhos em cujo rosto lhe faltava um olho, o esquerdo e na qual se podiam ver os ossos da face.

            Silêncio! As vozes se calaram. O único som que ouço é o do vento uivando sobre as pedras, ruínas das antigas construções, monturos assolados pelo tempo que os castiga como um chicote invisível. Mesmo os demônios estão em silêncio agora...
Não ouço mais o coaxar dos sapos e nem o som dos grilos que preenchiam a noite com suas canções. O galo se foi. Sua voz foi calada há quarenta e dois invernos. O único som agora é a voz síntese do velho hardware, aquela cabeça metálica de olhos vermelhos colocada em cima do velho balcão de mármore.
- Água senhor? – Ela pergunta – O teor de radiação está baixo hoje – terminou. A mesma música entoada uma vez na semana. As vozes? Elas se calaram. Os demônios estão em silencio agora.
Ahh! Eu desejava ouvir a voz do velho rabino, aquele de barbas brancas de longos peyot, quando ele dizia para prestarmos atenção às pequenas vozes, as vozes dos humildes, andarilhos iluminados, centelhas do alfabeto místico, avisando a humanidade que o dia chegaria, quando as vozes se calariam.
Lá no interior, os demônios continuam em silêncio. Suas vozes foram silenciadas pela voz da maldade que plantara residência na câmara esquerda do templo do coração do homem.
O gueto está frio hoje. Pessoas se reúnem ao redor do fogo aceso dentro do velho barril de petróleo, sangue negro, chamavam-no. Ele não existe mais. As veias estão secas e o sangue já não corre mais...
As manchas brancas cobrem a pele. Deveria ser um bom sinal, mas não é. A lepra voltou devorando a alma dos homens, mulheres e crianças. Nem os animais escaparam. Os contaminados são exilados. Eles os mandam para o vale do esquecimento onde a voz jamais se reerguerá. Eles a usaram maliciosamente. Difamaram com ela. Suas calunias foram lançadas ao vento como as folhas do velho carvalho que ficava na floresta de Chaiim. Ele também se calou. O vento já não uiva mais por entre os seus frondosos galhos.
Ahh! Onde está a voz do rabino? Foi calada pelos religiosos dogmáticos. Suas centelhas luminosas já não mais crepitam pelo ar. Mesmo os demônios não falam mais. Calaram-se no interior.
Onde estão as vozes dos poemas e dos poetas? Calaram-se também. Elas causavam comichões nos ouvidos da humanidade. Elas acusaram: - Foram os poderosos, os líderes das nações, em seus palácios decorados com sangue. Sangue dos inocentes. Eles as fizeram calar. Elas causavam comichões aos ouvidos do poder.
O brilho nos cegou os olhos. Foi em 2029. Detonaram a velha arma russa trocada por um pedaço de pão para alimentar as crianças famintas. Todas elas morreram com o calor nuclear.
Silêncio! As vozes se calaram. O único som que ouço é o do vento uivando sobre as pedras, ruínas das antigas construções, monturos assolados pelo tempo que os castiga como um chicote invisível. Mesmo os demônios estão em silencio agora...
Ah! Onde está a voz do velho rabino? Eu desejava ouvi-la agora. Calou-se. Mesmo lá no interior há silencio agora, nem mesmo os demônios sussurram mais.

Silencio... declamaram os Menutaqim, os estropiados, mutilados radioativos, almas sobreviventes em casulos apodrecidos.

“Quais mistérios poderiam haver agora para aqueles cujas as os ossos das faces lhes são visíveis” – Dizia a velha placa feita de madeira com estes dizeres escritos à mão e fincada na entrada do desfiladeiro que conduzia à vila dos estropiados.

As recitações haviam durado grande parte do dia e agora que o poente vermelho se aproximava, todos sairiam das cavernas e grutas para contemplar o Ocaso rubro na data do holocausto nuclear celebrada a cada dois anos e centro e trinta e dois dias. Mesmo num mundo destruído pela imolação atômica, o poente carmim eram mesmo contemplativo.

“E agora não haverá mistérios, pois, a lua não brilha mais, ela cintila sangue e as faces contemplam o rubor do perpétuo ocaso vermelho, o reflexo carmesim do próprio pecado” – declamava ao poente rubro todos os dias o Profeta do Final dos Tempos, o andarilho das sendas cintilantes da antiga sabedoria. “E agora não haverá mistérios...”



[1] Mutilados
[2] Dois anos e cento e trinta e dois dias.
[3] Hebraico para Holocausto Atômico.

sábado, 28 de julho de 2018

Os Karets



Os Caret’s

À medida em que os exilados foram gerando filhos, suas proles foram adquirindo centelhas de almas do poço profundo, escorias dos primórdios da criação misturadas com centelhas dos pecadores. Suas crianças já nasciam deficientes, deformidades tão horrendas que nem mesmo seus pais ousavam encará-las e por isso, suas faces disformes estavam sempre escondidas por mascaras feitas de retalhos. Assim, a tribo dos Caret’s, como foram chamados por aquela antiga nomeação do singular “Caret” cujo significado é “cortado”, crescia a cada ano, populando os lugarejos já abarrotados com mais aleijados disformes, comedores de carne humana, tornando ainda mais perigoso permanecer para fora das Eruvim[1] ao crepúsculo e nem mesmo os caçadores de Caret’s queriam se aventurar por aquelas bandas além das cercas ao entardecer avermelhado do mundo pós holocausto atômico, se bem que por vezes, o crepúsculo vermelho proporcionava um espetáculo apavorante para os que ainda se recordavam do mundo pré-apocalíptico.

Os pântanos jaziam repletos de esqueletos de Caret’s mortos ao nascer e que serviram de alimento para para criaturas ainda mais vis que os Caret’s – os Naziqim – seres outrora humanos, mas que após o ocaso da humanidade, são chamados de “As pragas da humanidade”. Já imaginou seres formados apenas pelo torço superior, rastejantes sobre o próprio ventre? Não tente imaginar para que, sua imaginação não assombre a sua alma. A visão metia medo até mesmo nas almas dos mais elevados.

Os Caret’s possuíam um líder, Avon, era um dos poucos que sobreviveram aos cogumelos atômicos. Sua aparência era horrenda. Faltavam partes do seu corpo e em alguns lugares mesmo os seus ossos eram visíveis. Seu coração podia ser visto batendo dentro do seu peito quando ele estava nu da cintura para cima ou usando trapos que eram as vestimentas comuns da população dos estropiados radiológicos. Um contador gaigher se acionaria a metros de qualquer uma das aldeias de Caret’s tão altos eram os níveis de radiação na multidão de hórridos deformados.

À entrada de cada vilarejo assentado sempre dentro das fendas que conduziam as cavernas interiores dentro dos vales, sempre havia um Caret vivo pendurado em uma cruz de metal e mais eram visíveis os seus ossos do que o que lhes restava de carne que havia sido devorada pelos próprios rádio-indivíduos membros do povoado. Era um aviso sombrio do destino que aguardava os que ousassem penetrar tais esconderijos. Um Caret crucificado permaneceria vivo durante muitas semanas sendo alimentado por seus irmãos disformes, um horrendo recado.

Nas estradas que conduziam às zonas habitadas pelos Caret’s, havia sempre uma placa com os dizeres “Contemplem os Caret’s! Que repulsa há agora contra a maldade?” Se um dia o mundo acreditou ter contemplado todas as horrendas ações da humanidade, se descobriria ainda horrorizado com o que o mundo havia se tornado. Antigamente havia aquele provérbio da sabedoria sobre a alma do pecador que havia sido cortada e lançada abrasada sobre as pedras afogueadas do Jardim do Éden para serem pisadas pelos justos, mas agora, nem mesmo os justos queriam calcar sobre as incandescentes centelhas manchadas dos Caret’s, os que se deram ao regalo de devorarem as carnes dos seus irmãos.

- Não há  mais cinzas no Éden – Dizia sempre um eremita – pois os cortados não são mais semeados aos pés dos justos – apregoava o místico andarilho.

“- Ai de vós, remanescentes dos homens, pois os Cortados caminham entre vós e vossa carne lhes será dada como alimento. Ai de vós...”



[1] Cercas

Autor
Bën Mähren Qadësh
"Crepúsculo De Bronze"

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Crepúsculo De Bronze - Capítulo I

Sangue, Fogo & Colunas de Fumaça”.

O gigantesco cogumelo atômico ergueu-se a 32 km queimando os céus do Oriente Médio por longos sete minutos, seguido por seis outros nos continentes restantes do planeta, no exato intervalo em que durara o primeiro, um após o outro, uma sinfonia atômica sinistra e obscura, dando inicio à era do crepúsculo. Em quarenta e nove minutos todas as cidades dos principais países do mundo estavam em chamas e quase, quase tudo fora reduzido a cinzas, com exceção do Marrocos e algumas outras republicas e reinos, que não possuíam armamento atômico. No minuto seguinte às imensas detonações, toda a humanidade já havia atingido o qüinquagésimo degrau da negatividade – com chamavam os antigos livros, armazenados agora em pergaminhos eletrônicos, o ápice da escuridão que alguém poderia atingir. A inteligência artificial fora programada para detonar todos os artefatos atômicos do planeta, no caso de um ataque ao Estado Político Sionista de Israel. Batizado de “Projeto Gideon” incluía o lançamento de trezentas ogivas nucleares contra dez países inimigos, e que fora modificado posteriormente quando o “S.Q.M.M – Sensitive Quantic Machine Machshev” em atividade em um complexo militar construído no Negev, assumiu o controle de todos os armamentos nucleares do mundo. Uma sombra incandescente saída de um antigo filme. Se existiam “fantasmas na máquina”, esta fora a prova definitiva. Do outro lado, religiosos dogmáticos diziam – “E foi-lhe dado comunicar fôlego à imagem da besta...” citando as palavras do antigo Livro da Revelação.

Homens, máquinas humanóides, hardwares inteligentes e replicantes travariam durante anos, uma batalha pela sobrevivência de suas raças, pela escassez de alimentos e água, num mundo desértico pós-apocalíptico.

Doenças radiológicas assolariam o mundo durante décadas, a não ser que um milagre purificasse a atmosfera, e devolvesse o planeta ao seu estado edênico original, mas isto seria algo quase impossível.

“Homem nenhum deveria confiar em milagres” – dizia o antigo livro da sabedoria. Milagres são resultado de conhecimento transformando em habilidade, e não uma simples questão de Fé religiosa e dogmática, como pregavam a maioria das religiões, agora extintas. Para que a atmosfera fosse totalmente regenerada, seria necessário alguém extraordinário, que possuísse o Conhecimento e que fosse capaz de transformá-lo em ação. Mas, pessoas extraordinárias agora eram uma lenda, e mesmo antes do Crepúsculo já eram uma raridade.

Fé? O mundo já não conhecia esta palavra, e mesmo antes do Holocausto Nuclear sequer sabiam o seu verdadeiro significado. Numa época de tamanha escuridão as pessoas apenas queriam sobreviver, e para sobreviver, fariam qualquer coisa.


A humanidade havia encontrado finalmente a ferramenta que os ajudaria a conhecer e discernir as criaturas sem alma dos verdadeiros seres humanos: A escuridão!

Deepak Sankara Veda - Autor

sábado, 26 de outubro de 2013

Paralelo 70/137

No dia 8 de Maio de 1945, no momento em que o Almirante Karl Dönitz assinava a capitulação da Alemanha Nazista e assim rendia incondicionalmente a nação hitlerista aos países aliados, uma imagem foi capturada pela judia Edell Mainard, libertada do Campo de Concentração de Auschwitz em 27 de Janeiro de 1945 pelos Soviéticos, no momento no qual o navio Goya se aproximava da Ilha de Manhattan.

O negativo foi encontrado 36 anos depois por sua neta, a jovem Elisabeth Edell, no antigo baú da avó. Ela o mandou revelar. Ao ver a foto, surpresa e sem compreender, guardou-a junto às relíquias da avó e se esqueceu dela até que seu filho Martin Edell a encontrou e publicou-a em seu blog com o titulo “Parallel 70/137” no dia 10 de Outubro de 2006. A postagem dizia: "If parallel universes exist this is surely, definitive proof (“Se universos paralelos existem, esta é com certeza, uma prova definitiva”).

Nas linhas posteriores Martin explicou porque intitulou a postagem de “Paralelo 70/137”: In the Hebrew language the number 70 and the value of the word "Sod (Secret)" and 137 is the value of "QABALAH" and together were the mystical sentence "Secret of QABALAH (Na lingua hebraica o numero 70 e o valor da palavra "Sod (Segredo)" e o 137 é o valor de "QABALAH" e juntos foram a sentença mística "Segredo da QABALAH).

Depois de somente 600.000 visualizações o blog foi misteriosamente retirado do ar. Martin Edell nunca mais foi encontrado. Sua família acredita que ele foi sequestrado e morto. A foto e a história reapareceram em Fevereiro de 2012.


Se esta historia for verdadeira, seu significado aterrador prova que, em algum universo paralelo os EUA já não existem mais...

A Foto

סיפור דמיוני

Fatos Reais

O Goya foi navio utilizado para refúgio de alemães, chegou a salvar muitas vidas antes de ser atingido por dois torpedos e ser partido ao meio, afundando em pouquíssimo tempo. O cargueiro abrigava cerca de 7 mil pessoas.

O Almirante Karl Dönitz realmente existiu e foi mesmo o responsável pela rendição da Alemanha nazista.

Fatos Fictícios

Edell Mainard e demais personagens não existem. Foram criados pelo autor para este conto de Ficcão. A foto da detonação atômica da Ilha de Manhattan foi capturada de um vídeo com o uso do Smartphne Samsung Galaxy Note II e recebeu a aplicação de alguns filtros digitais para o efeito de envelhecimento.

O número 600 é a razão em gematria hebraica qabalista do termo "Sheqer" cujo significado é "Fake".

Autoria
Bën Mähren Qadësh

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Mercado




O barulho era insuportável aos ouvidos biônicos de David. Centenas de sons misturados, gritos dos mercadores de água, cambistas cibernéticos, vendedores de trajes contra radiação, todos juntos em um longo corredor cercado por grossas paredes de concreto do bunker, que antes fora uma instalação subterrânea da famosa Área 51, os quais ele podia distinguir nitidamente.

- Mão direita! Mão direta em perfeito estado – gritava um cambista cibernético dos muitos que ali vendiam peças sobressalentes para hardwares inteligentes e cyborgs oferecidas sobre mesas feitas de pedaços de velhas madeiras e placas de metal enferrujadas. A maioria delas obtidas de caçadores de hardwares e replicantes que, após capturá-los, desmontavam-nos e vendiam, trocavam, negociavam seus membros. Os replicantes eram mortos e seus órgãos retirados e vendidos para cambistas e traficantes de órgãos em todas as partes.

O lugar estava iluminado precariamente por lampiões a querosene, velhos geradores a combustível e algumas lâmpadas fluorescentes que se mantinham acesas por velhas pilhas de plutônio.

No final do corredor outro cambista gritava a todo pulmão, oferecendo um coração para replicantes, criado a partir de células tronco retiradas de placentas daquelas que davam à luz dentro do bunker. Claro que um replicante que quisesse trocar de coração, precisaria de um cirurgião cardíaco, numa época em que mais proliferavam açougueiros do que médicos formados. Não haviam universidades. As poucas que ainda ofereciam cursos eram apenas velhas ruínas remanescentes de antigas faculdades. Muitos replicantes se submetiam a tais cirurgias de transplante para depois caírem nas mãos de caçadores que os matariam e retirariam seus órgãos.

Um cachorro cyborg atravessou a frente de David saindo de uma abertura no concreto feita na parede esquerda do corredor. José pode ver as partes biônicas do cão expostas do lado esquerdo.

- Precisamos de uma mão esquerda para você – José disse enquanto olhava ao redor em busca de ofertas que se adequassem às economias que possuíam.

- Leve-me até o “Mestre” – disse David apontando com o indicador direito cuja mão estava vestida com uma velha luva preta, para o lado direito no fim do corredor. O Mestre era o velho cientista cibernético e também o cirurgião que implantara em David suas partes biônicas nos meses após o acidente e antes do holocausto nuclear.

- Olho esquerdo, olho esquerdo – gritava agora o mesmo cambista que dantes oferecera uma mão direita.

José e David chegaram ao final do corredor e pararam diante de uma porta de aço cujas folhas de dois centímetros de espessura foram atadas com grandes rebites que se mostravam salientes na superfície.

- Bata quatro vezes consecutivas faça uma pausa, mais seis vezes, pausa e mais quatro vezes – pediu David.

- O que é? Um código? – perguntou o jovem José. – Sim! Baseado nas letras do alfabeto hebreu – explicou David. Quatro batidas para a letra Dalet, seis para a letra Vav e mais quatro para outra letra Dalet.

- Ah! Entendi! “DVD”, ou seja, David – Falou José enquanto caminhavam para mais próximo da velha porta de aço.

Obedeceu como lhe fora instruído. Logo a pesada porta estava aberta e uma figura sinistra de longos e grisalhos cabelos e com um tapa olhos sobre a orbita esquerda se mostrava atrás dela.

- Professor! Há quanto tempo? – David disse tendo a cabeça inclinada para baixo e levemente virada para a direita.

- Como sabe que sou eu meu querido aluno e velho amigo? – perguntou a estranha figura atrás da porta de aço.

- Meus ouvidos biônicos, os mesmo que você implantou, ainda funcionam muito bem, meu velho amigo – David disse enquanto caminhava para frente para abraçar o Mestre.

- Mas diga-me meu querido aluno, que ventos radioativos o trazem até este inferno subterrâneo, a este mercado de loucos gritantes?

- Preciso reparar a minha mão esquerda – disse David enquanto mostrava ao velho professor o que sobrada da sua mão, resultado da luta com o agente de Qkar, que fora enviado para tirar-lhe a vida.

- Ah! Imagino que isto tenha sido o desafortunado resultado de alguma luta, estou certo? Perguntou o velho mestre enquanto segurava os restos esmagados do que antes fora a mão esquerda de David. 

- Sim! Você está certo meu amigo. Foi mesmo um agente de Qkar – respondeu David Nevuá.

- Bem, por sorte eu tenho aqui uma boa mão esquerda guardada e creio que lhe servirá bem, meu amigo – disse o velho.
A porta fechou-se atrás deles enquanto caminhavam para dentro do ambiente iluminado por lâmpadas fluorescentes de cor amarela mantidas acesas por baterias químicas. Uma velha estante de madeira repleta de livros antigos, a maioria escritos no velho idioma hebreu, encontrava-se a direita do ambiente. À esquerda dela, uma velha cama também de madeira, com velhos travesseiros e um cobertor dobrado sobre a cabeceira. No Centro uma mesa e sobre ela algumas velas acesas feitas de parafina reciclada, iluminavam velhos pergaminhos que repousavam sobre a mesa.

- Vamos lá David, sente-se aqui – Disse o mestre apontando para uma cadeira colocada à frente da mesa. David podia enxergá-la com sua visão mental, resultado da ampliação da sua mente.

- Os olhos não vêem aquilo que a mente não reconhece – replicou enquanto puxava a cadeira com a mão direita.

- Vejo que o estudo da sabedoria produziu. Um homem que, mesmo não possuindo os olhos é capaz de enxergar como se os tivesse – replicou o mestre.

- Ponha sua mão aqui David, ou melhor, dizendo, o que sobrou dela – pediu o velho enquanto tomava uma ferramenta de uma pequena caixa que trouxera e colocara sobre a velha mesa. Desconectou os restos do que antes fora uma mão, olhou os destroços por um momento e disse em seguida:

- Wow! É nitidamente visível a força que tinha o seu oponente, e que fora capaz de produzir este resultado.

- Os agentes de Qkar possuem força suficiente para esmagar ossos sem nenhuma dificuldade – Falou uma velha cabeça hardware colocada numa prateleira ao lado da por de entrada.

- Aimmmm! Que susto! - Gritou José ao descobrir de onde haviam se originado as palavras – Pelas barbas de rabi Akiva – completou.

- Desculpe mestre. Meu amigo e companheiro ainda está assustado com a batalha anterior com o agente de Qkar – pediu David.

- Pronto. Mexa dos dedos, vamos ver se está funcionando bem – disse o mestre após colocar a nova mão substituindo a que fora esmagada.

- Sim! Funciona bem! Obrigado mestre – agradeceu David enquanto exercitava os dedos e o pulso do novo membro cibernético.

- Como está sua busca pelo mistério? – Perguntou o mestre enquanto terminava de ajustar a nova mão de David.

- Não está longe do fim. A cada dia sinto estar mais perto de encontra-lo Mestre. As pistas são claras, são como sinais luminosos na minha mente...

- Está terminado! Você não terá problemas com esta mão – Disse o professor. – Mas, por favor, nada de brigas novamente, principalmente com os agentes de Qkar!



Excerto da Obra "Crepúsculo De Bronze" - Não publicada - do Escritor Místico "Deepak Sankara Veda (Misha'Ël Ha'Levi)".